MAM Rio: "Novas Aquisições" e "ArteVida"

Com imensas janelas de vidro que servem de moldura para a obra de arte que é a Cidade Maravilhosa e situado em um dos lugares que mais inspira artistas no Rio, o Museu de Arte Moderna (MAM) está nessa temporada com duas exposições de grande relevância para o mundo das artes. São elas:

Novas Aquisições

Em sua sexta edição, a exposição das Novas Aquisições da Coleção de Gilberto Chateaubriand reúne o trabalho de 65 artistas em um mix de obras que não apresentam ligação temática ou de estilo entre si, mas que compõem um cenário muito interessante. A coleção também é uma forma de apresentar novos talentos da arte contemporânea brasileira, com uma presença expressiva de artistas fora do eixo Rio-São Paulo.

É o caso da mineira Camila Bicalho (KK Bicalho) que assina a série Minuances, uma das novas aquisições. Com figurinhas em papel preto recortadas com uma admirável precisão de detalhes, Camila recria cenas do cotidiano embaladas por todo um charme cativante conseguido por seus pequeninos personagens que agora ganharão uma visibilidade muito maior expostos no MAM e que contam com uma posição estratégica na exposição que, vista por um ângulo diferente, permite uma ilusão de cenário muito bonita.



Apesar de não haver uma uniformidade temática, dá para perceber que muitos artistas vão trabalhar em cima do "como" se vê, e não apenas do "quê". Nesse aspecto, um obra que chama bastante atenção é a da artista paraibana Íris Helena, que constrói um imenso painel de blocos adesivos post-it com impressão por cima de seus fundos amarelos. Sozinho, cada post-it nada representa, mas o conjunto deles forma uma cena cotidiana no centro de uma cidade grande brasileira, esburacada e mecânica. Os adesivos post-it simbolizam diretamente tarefas a serem cumpridas, coisas a serem feitas; fato interessante a ser relacionado com a imagem do painel, que mostra pessoas na rua, provavelmente realizando as tarefas de suas anotações, daí o nome da obra: Notas Públicas.



Além disso, se a composição é vista de longe, a imagem ganha um aspecto de pixels, o que é extremamente interessante para uma arte de papel, que não é digital. Há na exposição também muitas outras obras interessantes e fortes, como a escultura Karma, cujo peso chega a ser sentido, e a presença muito expressiva também de obras criadas a partir de mídias mais tecnológicas, como edição de vídeo, montagem digital e técnicas de iluminação.


ArteVida (Política)

Procurando retratar a relação entre a arte e a vida dos anos 50 até o início da década de 80, a exposição ArteVida está dividida em quatro lugares pelo Rio de Janeiro: na Casa França-Brasil, na Biblioteca Parque Estadual, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no MAM, este último recebendo as obras de artistas que viveram sob regimes autoritários ou em épocas de confrontos de ideias ou ainda em períodos de guerras, e todos usaram a arte para expressar um grito de paz e liberdade.

Um desses artistas é o palestino Abdul Hay Mosallam. Alguns de seus trabalhos, datados da década de 70, dão um panorama dos conflitos do Oriente Médio, em principal a Palestina, região que representa de forma meticulosa em seus quadros. O cotidiano vivido por ele até ser expulso da vila de Dawaimeh, em 1978, é retratado em suas obras marcado pelas disputas políticas locais. Sua técnica é diferenciada, com pinturas em relevo - na qual a forma tem uma saliência - que acabam ressaltando as personagens retratadas.



No quadro The Palestianian Delilah, de 1975, o artista nos mostra o confronto de uma mulher palestina e a figura da arma (nas mãos do homem) representando uma ameaça constante. A arma está sempre presente, sendo o símbolo de todo o confronto. Também está presente a escrita, cobrindo toda a obra e expondo a importância da palavra para o autor da obra. Em 2006, Abdul Hay Mosallam lançou o livro “Palestinian Traditional Heritage in the Artworks of Abdul Hay Mosallam Zarara”, no qual estão presentes algumas de suas séries famosas e críticas de alguns de seus trabalhos. Atualmente, o artista vive e trabalha em Amã, na Jordânia.


Membros do grupo: Gabriela Silva, Isabelle Cardin e Ticiane Faria - Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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