A exposição “Ilusões” (curadoria de Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen), constante na Casa Daros de 13/09/2014 a 13/02/2015, faz jus ao título na medida em que conflita a percepção de realidade do público. O jogo entre visual, auditivo e teórico (percepção e interpretação) é o grande ataque das obras, dispostas no belo espaço da Casa, em Botafogo, destinado à arte contemporânea latino-americana.
                                                                                                                                                                                                                         

A brincadeira com a arbitrariedade nas obras em que se distorce a relação entre signo, significante e significado foi o que mais chamou a atenção do grupo. O esquema dos signos linguísticos, nelas, é reformulado e provoca um efeito de distorção também sobre o significado usual, com o qual estamos acostumados: o que se diz ser um espelho nada mais é que uma frase num quadro branco que não reflete nada. Por que a palavra espelho representa o objeto de vidro que reflete imagem? Se podemos arbitrariamente dizer que a palavra e o som são o objeto, o artista pode arbitrariamente dizer que o quadro é um “espelho”, já que em matéria de arte, vigoram as convenções do artista. É a nossa inclusão nesse ambiente em que a relação conceitual entre palavras e objetos é vivida acriticamente que permite o estranhamento.


Neste mesmo sentido, outra obra em que essa desautomatização da nossa percepção crítica entra em cena é a da sala vazia. Compostos por palavras em espanhol, os móveis e objetos que representariam um espaço caseiro tradicional – janelas, tapete, estantes etc. – são espacialmente dispostos e representados por palavras, sem que o correspondente costumeiro esteja ali exposto – no máximo a sua forma.



O mesmo ocorre com [Objetos arbitrários e seus títulos] (em que é dado um nome aleatório a objetos e o espectador busca construir pontes com o conceito estabelecido) e com outras obras do conjunto. Essa reincidência explicita a preocupação da arte conceitual contemporânea com a questão da linguagem, com a representação escrita enquanto sumo artístico e teórico.

Há, por outro lado, obras que se relacionam mais com a ilusão visual-plástica que com conceito, como as pegadas na areia, no início da exposição; outras, com a ordem sinestésica, como a [sem título] de Fernando Pareja e Leidy Chavez, em que miniaturas de gente caminham e caem num buraco, em meio a gritos. Formam, enfim, um conjunto complexo e questionador de arte, realidade e ilusão.

Parece-nos que a grande proposta da exposição não é resolver problemas, expurgar realidade do inevitável engano, o engano da realidade ou simplesmente iludir/enganar os espectadores, mas provocar novas visões sobre ilusões, sejam elas aquelas às quais cotidianamente nos expomos – como a de que a palavra tem relação direta e invariável com algo da ordem física – ou novas, propostas na exposição.

Admitindo sermos frases, tiramos da fruição de exposições como “Ilusões”, que aproximam arte, sensibilidade e conceito, orações que possam contribuir para uma escritura menos mecânica e mais questionadora.


Grupo: João Pedro Moura, Danielle Seyr, Julia Bigio, Renata Devesa e Roberta Bittencourt.

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