Galeria Laura Alvim apresenta exposição inédita de Ricardo Basbaum




A Galeria Laura Alvim (vinculada à SEC - Secretária de Estado de Cultura), localizada em Ipanema, no Rio, apresenta a exposição individual de Ricardo Basbaum (sob a curadoria de Glória Ferreira) – “nbp-etc: escolher linhas de repetição”. A exposição traz trabalhos inéditos do artista, ou nunca antes apresentados na cidade. Na última quarta-feira, dia 15, foi o mais recente local visitado pelos graduandos de Comunicação Social da UFRJ sob a orientação de Kátia Maciel.

A exposição é um panorama sobre a prática artística de Basbaum, fazendo uma “retrospectiva” de mais de duas décadas de carreira. Tem como foco o encontro auto-reflexivo do artista com o público – a relação sensorial de participação com a própria obra é um dos pontos originais presente nos trabalhos de Ricardo. Esse conceito de arte surgiu com ele desde a década de 80, tendo como influência Lygia Clark, Helio Oiticica e outros, que partem do pressuposto da interação entre a obra e o público (o movimento, a vida, que nasce da obra a partir dessa interação).

Basbaum transforma a arte como um mecanismo de sociabilidade e linguagem através de experiências interativas e sensoriais, que vão desde performances e instalações, a objetos e textos que interagem com o visitante. 

Ricardo Basbaum é um artista que afinca seus trabalhos essencialmente no Rio de Janeiro e é professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Ele segue a linha conceitual-sensorial e suas obras sofreram impactos pelo advento da corrente do neoconcretismo. O artista paulista sempre buscou formas de fazer com que a escrita vire arte, tornando processos conceituais mais sensoriais. Concordando com a também artista Lygia Clark, Ricardo defende a soberania da obra: ela tem todo o poder sobre o público e, até mesmo, sobre seu próprio autor.


O Ambiente


A exposição começa levando o visitante a “imergir” no mundo criado por Basbaum. Ele fez questão de colocar grades a fim de direcionar o público aos trabalhos expostos antes da sala principal. As grades funcionam como células dentro desta arquitetura e são como um convite para estar dentro e se relacionar com suas obras. O visitante se depara com uma estrutura incomum, um tipo de estrutura arquitetônica-escultórica que obriga esse a desviar e buscar outro percurso que não seja aquele que imaginava; passando por espaços nessa estrutura, idênticos, no formato, com o NBP. É dessa forma, com essa introdução exótica as obras do artista, que começamos a interagir com elas.



Seguindo pelo ambiente, nos deparamos com paredes onde há palavras, como pequenos versos, aparentemente sem nexo. Esse jogo de palavras, refrões, leva novamente o visitante a interagir com elas, uma vez que pode vocalizar o que está escrito ali (o próprio artista deixa claro que sim, você pode fazer isso e repetir; com você, seu amigo, ou quantas pessoas estiverem com você).



Na sala seguinte, nos deparamos, primeiramente, com um grande diagrama, acompanhado por mais duas, uma de cada lado nas paredes perpendiculares. Nesse grande diagrama observamos o processo conceitual na sua produção – como uma forma de revivenciar momentos importantes nessa sua trajetória artística (como o neoconcretismo, o bioconceitualismo, etc).



No próximo ambiente, em uma sala voltada para a praia de Ipanema, encontramos outro diagrama e uma estrutura com fones de ouvidos. Ambos os objetos se conversam – o diagrama como interação visual sobre a mitologia do artista, e os fones de ouvidos que transcendem o visitante para a parte sensorial (quase metafísica) de sua obra. Totalmente mais profundo no mundo de Basbaum, ouvimos uma superposição de textos falados pelo próprio, editados e mixados. O que Ricardo propõe aqui é uma ativação de textos como elementos visuais e sonoros.


Novas Bases para a Personalidade



Um objeto interessante, e que foi citado pela professora Kátia, mas que não se encontra na exposição e que, de certa forma, conversa com ela, além de criar uma “extensão” à ideia do artista – o NBP.

A ideia desse projeto surgiu em 1989, logo depois de Olho (outra experiência de interação, criado pelo artista). Traz como conceito o mesmo pressuposto, porém, junto com a ideia de imaterialidade do corpo, materialidade do pensamento e o logos instantâneo.

Foi querendo essa interação de sua obra com o público, dando poder a este de formular seus próprios conceitos em cima daquela obra, que surgiu em 1994 o projeto “work-in-progress”, onde o NBP passeava de “mãos em mãos”, pelo mundo, dando a liberdade para quem tê-lo de construir sua própria arte. A estrutura de metal era imutável quanto a sua forma existencial, mas totalmente mutável quanto ao significado que as pessoas podiam construir em cima dessa estrutura, para elas. Podia ir desde uma pequena fonte a uma jardineira móvel.



Uma parede em amarelo com diversos dizeres, cadeiras acolchoadas, fones de ouvido e vista para a praia. Isso é o que quem visita uma das salas da exposição encontra. Você senta-se ou deita-se, coloca os fones de ouvido e dá-se início a uma série de palavras e frases pronunciadas aos ouvidos de quem se permite entrar em contato com essa obra específica de Basbaum.  Há ,nessa peça, uma ativação de textos não apenas como elementos escritos mas também como elementos sonoros e visuais. Os comentários proferidos no áudio referem-se diretamente à construção da mitologia do artista e alguns desses, são:

“ O tempo como vertigem do êxtase.”

“ Intensidade do presente enquanto técnica de descolonização absoluta.”

“ Isto não é uma linha reta.”

“ Experimentar-se como exercício de plenitude em circunstância aberta.”

“ Articulações coletivas encontradas em conjunto.”

No entanto, repetir comentários feitos no áudio é experimentar apenas um tipo de sensorialidade, não indo de encontro com a proposta do artista. Para deparar-se com as demais sensorialidades dessa obra e entrar em contato com as outras expostas na Galeria, vale a ida à exposição o mais breve possível visto que seu fim tem data prevista para o dia 16 de novembro. A Galeria fica no endereço Av. Vieira Souto, 176, Ipanema; ficando aberta de terça a domingo de 13h às 21h, com entrada gratuita. 

Gupo: Carla Caroline, Edinelson Marinho, Jaqueline Ruiz, Thaís Batista.

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